Saturday, December 10, 2011

Do poço da ingenuidade


"Edição da Mocidade Portuguesa Feminina"!!!

Escrita ainda com pena e aparo...

Com o toque clerical que aprendia na escola - que em casa não entravam santismos!

Escritas fugidas ao tempo desencantado actual.
Que agora tudo se trafica nos traficantes e hiper-modelos.
O não comércio, a falta de dinheiro ou de oferta, o que era feito pelas nossas mãos pequeninas.
Saltam-me às mãos as pequenas coisas da ternura.
Tinha tão poucos anos ...

Friday, December 9, 2011

Do poço


Confio cegamente
nas ervas que flutuam vindas de um grão de nada
talvez um pouco de terra
um pouco de sol

e a profundidade de um poço.
Não se sentem aprisionadas.

Thursday, November 17, 2011

Azul-lar


Ao chamamento
respondo com esta casa que nos olha de frente,
acolchoando sardinheiras em vaso esquecido,
na espera das peças de roupa antiga.

Esta, virada à claridade calada de quem não vem.

Tuesday, November 1, 2011

Casa de abandono


Quando?

Por que razão
e onde, em que ensolarado lugar,
abandonaste a casa?

(alguma) A claridade



Segura a janela, minha árvore ferida e generosa.
Enquadra-a e realça-a.
Acolhe os pássaros, não os ouves?

Segura alguma da luz, mesmo com grades.

Wednesday, October 19, 2011

Tardias férias




... mas belas como uma abóbora-menina
de sol amarelo achado nas dunas
(que nunca se transformou em coche)

Intensas, inesperadas, desprendidas,
distraídas como aves e pedras roladas na maré.
Aporto agora, mal.
Encalho nos dias comuns e mesmo nos incomuns.

Tuesday, August 16, 2011

Ilha






Quem semeia, quem produz nos pequenos socalcos que temos e somos?
Quem vê um mar constante, constante-a-mente?
Incorrigível, continuo:

(a)guardar uma ILHA que (es)tivesse a (re)tenção da LUZ.


Saturday, August 6, 2011

Up side down




Tenho visto tanto
tanto lixo
nos montes nas mentes
- não artístico, mesmo objecto-abjecto

que me pergunto se não serei eu que estou de pernas para o ar
(e todos, todos, pais, filhos, primos, irmãos, televisões, jornais e as novas tecno-várias
certos!)

... e só me apetece ficar calada entre cabelos e espelhos partidos.
Tipo astro-longe.

Monday, June 13, 2011

Apontar






...os olhos, do mesmo lado e no caminho circular do Cabo da Roca.

Quando olho uma casa que vê o mar
e abandono,
é dos vidro que o reflectem que me desejo dela,
eu dentro.

(e este ano igualmente, o lugar mágico e a torneira muda de ferrugem)

Wednesday, May 4, 2011

Do outro lado




...faz, por agora e dias, 5 anos.

De ingenuidades.

Ah! mas se o que eu quero é a terra
os espaços
escrever só com o olhar enquanto os olhos

ver o indizível

ouvir só com os olhos enquanto abertos

beber sons que não sei

Friday, April 15, 2011

São gigantes...


Os tempos bonitos de passear, as pedras, as amigas e o longe.
Mas.
Há os moínhos que moem em seco a vida da gente. Descentradas as velas.

E fica tudo desfocado.
(cuidado então com os paus e os tropeços do tempo)

Thursday, March 31, 2011

Um repentino


(este é mesmo para mim-lembrança de alguma claridade)

Que se vir uma pequena luz ao fundo do túnel
não a devo desperdiçar
por nada nem ninguém!

(em utopias de utópicos futuristas)

Wednesday, March 30, 2011

Contudo, e quase sem nada




... penso ainda que virá um barco com peixe
a rir-se a gente
a vela solta ao mundo do vento
e traz novas de meus amigos

ponho-me à escuta das águas
com os olhos numa estrada
difusa e sem peso

onde só eu posso caminhar
em pensamento
OU
onde eu só posso caminhar
OU
onde só o pensamento pode caminhar

Saturday, March 26, 2011

Do não-esquecimento

Nenhuma água lava a mágoa

a cancela em baixo
os ladrões do tempo
os muros onde amorosamente me encostei


Não perdôo o roubo de tantas horas felizes
que me fizeram alguns alguéns

por maldade, poder, fingimento

nada as trará de volta

Monday, March 14, 2011

Ninho


Hoje pensava num lugar, numa casa na árvore
ou, não podendo ser como nos filmes,
a ver árvores, perto.
Onde os pequenos rebentos pudessem ser acariciados, espreitados a ir crescendo.

E num momento, apareceu-me esta fotografia: tirada há precisamente dois anos.

Saturday, February 26, 2011

MM de Minha Mãe



Não te juntei com ela, Mãe, porque é mais dela que me lembro nessa data.
(Se calhar acontece-me como com a tua, recordámo-las melhor pelo amor que nos deram; e quando já é passado).
Nunca foste uma grande Amiga, servias-te mais de mim como um escudo teu. Balançaste o teu amor para um lado só e nunca te posicionaste - nem hoje o dizes - contra a dura e sobressaltada vida que os dois me deram.
Não tivemos conversas "de coração", Mãe. Escapavas-te aos meus problemas para proteger a fachada da família e sempre-nunca tiveste culpa nenhuma. Como o dizes variadamente.
Mas será que as árvores floriram assim no dia em que nasceste, há já tantos anos?
E será que o teu lamuriento sorrir de agora se aproxima vagamente do riso que tinhas comigo ao colo?
E amarei eu mais essa figura bonita e frágil mas determinada (a ter a filha tão nova, a casar, a trabalhar) do que a espalhafatosa senhora das mil objecções em que te tornaste? Posso eu hoje deixar de recordar a roda a que nos ataste a ambas?
Mãos de prata te diziam.
Dá-me as tuas mãos, Mãe, e vamos passear pelo que "gostaríamos de ter feito juntas".

Friday, February 25, 2011

A de Amiga


Não me importo assim muitíssimo de morrer
mas queria morrer sedada
com a droga como seda a afundar o barco das lembranças
não quero angustiar-me nos minutos da passagem
com os rostos; e lembrada
das malfeitorias que nos fizeram
- que fazem e vão fazendo.

Nem é precisamente das palavras que me queixo, L., basta o silêncio de nos ignorarem.
A rapsódia cordial.
Nesse riso alentejano, nesse azul algarvio onde nos entendemos como irmãs de sangue e segredo,
ficaremos as duas.
Porque a gente, L., vive bem tão bem quanto o imagina a memória dos que amamos.
E a ti, a mim, muitos amaram mal.
Amaram-se a si mesmo: não a nós, L.

Sunday, February 20, 2011

Ainda, as pedras








Porque me apetece ver um amor luminoso
eterno
datado
de tantas vezes que não dou por ele

Abre-se uma grade que range no tempo
um ferrolho que guarda
imagens de interrogação

Uma janela do mundo, um carinho de renda

expressão da pedra e do sentimento
num labor íntimo com o passado

Saturday, February 12, 2011

Pedras






Que olho ou vou (remo) vendo.
Segredos não mentiras.
Conservam a memória do frio, a memória do calor.

Porque me será esta apetência e este falar delas e com?
Dos veios, dos tempos, dos pés - dos princípios do mundo me sinto.

Tão nua e marcada como uma delas.