Monday, December 23, 2019

Tempos de luas

Sendo o que sou, uma pessoa de "luas" e que gosto delas, notando-as e olhando-as sempre que o horizonte o permite...
deixo colorações destes últimos dias de 2019.
O que poderia chamar "Luas da minha janela"






Não tendo a ver com luas, tem a ver com os meus amores por gatos e alfazemas: encantador!
Foto da minha amiga Teresa Domingues, conhecimento que me ficou de outros antigos dias "com árvores".

Monday, November 25, 2019

Este livro

"Uma colmeia sem mestra não se sabe orientar"

 Prova do nosso carinho
Aqui queremos prestar
Queremos que compre um livro
O que mais lhe agradar 

E o nosso direito reservamos para o autografar...
Subscreve Grupo A.L.I.
***
Em Março 1993 
Quase 30 anos passados deste trio, desfeito por ausências.
Um "Presságio de Fogo" que se transformou em presságio de deserto e gelo.
Vindimadas que foram as vinhas do Verão.
É tempo de (apenas) as observar na viagem.

Diz L. na sua "Travessia":
Nunca retroceder, antes correr
Ao encontro das vozes dos ausentes. 

Neste espanto, nesta ternura. Assim me fico, fico-me numa pedra de sinais.

Inescrutáveis.

Wednesday, October 23, 2019

Esta casa

Esta casa onde se vive e(re)vive há muitos anos.
Não tem sol e tem sol. Nascente-Poente como sempre imaginei que um lugar fosse estar onde eu estivesse.
É uma moeda de duas faces, de um lado tem grades e olhos tapados que escondem o horizonte, do outro o fim da tarde surge espalhado em reflexos que eu noto, de cabeça no ar.


Muita gente aqui passa, ou passou, ao largo e cá dentro.
Muitas coisas vi apenas destas janelas.
Um dia me dará para as recolher aqui, antiguidades.
Como as casas velhas que estão aqui há décadas, já sem os azulejos. Ainda lembro de lá morar gente, as janelas com cortinas, os jardins cuidados.
Posso dizer, como penso, que quem permite e se aproveita disto, deveria ser preso, culpado de abandono...
Uns contam tostões, outros têm anos ou décadas para o negócio especulativo, para esperar por milhões.



Já não há "A" árvore que me dizia das estações. Mais tarde apareceram três pequenas japoneiras a que sorri durante poucos anos. Hoje, asfalto, moderno e três pequenas árvores esgrouviadas. Entrou-se no sistema de "sistematizar" dirigindo, os automóveis, as pessoas, sem passar pela fruição dos espaços comuns. Estamos todos de passagem.
Cheguei a ver muitos poentes em diferido e os arco-íris abraçando o horizonte possível.







Olho para o alto agora, com alguma timidez, por sobre as ininterruptas filas de trânsito e paredes, prédios de todos os feitios. Hoje até já vislumbro um novo "super" recheado disto e aquilo.
Por aqui anda à solta a moda das casas fechadas ou de gente de passagem, é o turismo "sem rei nem roque" e o louco aproveitamento dele.
Não cabe aqui lembrar o mar e o sossego das ruas atrás. Nem há fotografias, só lembranças. Como de amigos perdidos.

Friday, October 18, 2019

Aguarelas e apontamentos de criança

Ultimamente, quando se compra revistas ou jornais, é porque são férias. Ou se escrevem postais. Ou se aponta o que vai passando para "depois de".
Assim foi na Visão, um artigo sobre Tolentino de Mendonça, agora cardeal. Figura que já conhecia e apreciava, do esforço de humanização e proximidade da religião. Dá-lhe um sentido.
Li aí palavras "que vieram ter comigo" nesta fase de pensar em menina pequena. Aqui as aponto.

"O mistério está todo na infância
é preciso que o homem siga
o que há de mais luminoso 
à maneira da criança futura." 

"Sentar-se no colo de uma avó e ouvir  uma história é ganhar para a vida um amor pelas histórias e pelos livros."
 



Neste Percurso de Ternura onde vais?
minha bela borboleta


minha flor a desabrochar em água de mundo


"Imagino que, no fim da minha vida, hei-de encontrar a minha primeira casa, o primeiro rosto que olhei, os primeiros que conviveram comigo, o primeiro pão que comi, os primeiros nomes que escutei. Para mim, ao fim da rua existe a infância. Não como realidade deixada inevitavelmente, mas como metáfora daquilo que me espera."
***
Entre muros e distâncias, és para mim o azul.
Talvez possas pensar, num dia, ao longe:

"É muito bela esta mulher desconhecida
que me olha longamente
e repetidas vezes se interessa 
pelo meu nome." 
***
Eu recortava papéis de jornal, pintava e desenhava, fazia colagens de bailarinas e flores, há muitas décadas, para uma mulher que também assim se chamava, de mau feitio diziam, mas que gostava muito de mim. Eram os quadros e os enfeites que tinha na sua pobreza, para colocar nas prateleiras dos pratos e tigelas, ou em cima da cómoda.


 (fotografias recolhidas na exposição no Museu Etnográfico de Campo do Gerês)
Na cidade, também os armários e a louça semelhantes. Lavar na pia comum.
A minha primeira casa, com os primeiros que conviveram comigo, dos primeiros nomes que escutei... avó Vitorinha, Leopoldina, Alice, Sarinha, Menina Lúcia, Mariette e Marietinha, Custodinha... a cada um corresponde uma história de vida que vou (ainda) lembrando.
Tantos "nunca(s)" calados.


 

Saturday, September 28, 2019

Amarelos

O Outono é um esplendor de cores em gradações de amarelos, castanhos, ocres, vermelhos. Deverei ter por aqui e ali, no Sul e no Douro, mil fotografias desse adeus da estação mais calma, mais introspectiva, do ano. A que prefiro.
Mesmo o Sol se inclina para "amarelar" e cair oblíquo, pincelando as telhas, as trémulas folhas das videiras, das árvores e o horizonte.
De repentes, a escolher ideias para um passatempo, dou conta da necessidade de dizer como a minha vida se "está a sentir amarela". Brincadeira (a sério a balbuciei) que disse aos amigos - o Belo e a Alice - com quem ia de carro para o campismo, há muito, muito tempo; e eles repetiram tantas vezes a frase da criancinha 4/5 anos?, porque enjoava sempre a andar de automóvel.
Hoje, muitas coisas me enjoam. Digo amarela como podia dizer enfadada.
Um enjôo psíquico que avança e se torna físico. Mesmo.
Encontros.









Estes instantes acima têm mais de 10 anos.
Em baixo, este tempo de folhas mortas, este Alentejo de agora. E a semelhança em que me encontro.



Friday, September 6, 2019

Deve ser...

...um indício da muita idade: cada vez mais me lembro de coisas antigas, ditos, músicas, estados, gente.
De manhã, tarde da manhã, claro! vêm-me à cabeça as letras inteiras de canções que ouvia, algumas nunca as cantei que eram do "antigamente" e perpetuavam a cinzenta e doentia forma de vida.
Mas outras são simples apontamentos de quem sempre gostou de música e outras tantas coisas que se mantêm, comigo e de mim. Como "Alentejo da minh'alma, que longe me vais ficando" ou "Aquela janela, virada p'ró mar". Muitas, brasileiras também.
As francesas e inglesas foi mais tarde.
Mas hoje lembrei-e foi de: "Falta de chá em pequeno". Não faço ideia donde vem o dito, sei que era sobre "falta de educação". E cada vez mais vejo e sinto as pessoas assim. Olho à volta, conto-as. Exceptuando o que penso das que "desapareceram do mapa", mortas ou afastadas (um dia me dará para falar delas), quase todas assim são, diria: brutas. Porque a delicadeza, a atenção pelos outros, a gentileza... puff, foi um ar que lhe deu!
Por aqui ando, juntando cacos.
De como sempre gostei das pedras e da natureza: foto que só tenho em tamanho muito pequeno, e desfocada. Tirada pela Tuxa, uma grande amiga à época. Sei de cor como era o meu vestido e o lugar onde a captou

Este grupo enorme, em Salgueiros, hoje falava dele noutro lugar: onde andam, tirando os que sei que morreram? que lembranças terão, ou nenhumas? Há um hiato na minha adolescência nesse período, fotos que outros tiravam e nunca vi, fotos perdidas.
Relembro algo de que gosto muito:
"If I know a song of Africa...does Africa know a song of me?" - Karen Blixen, no seu livro "Out of Africa"
Quando e como, os comboios em Coimbrões passavam à hora certa, e eram raros, se é tão jovem que a morte não existe...
De luz na sombra: que o meu cérebro se apague antes porque pensar é, muitas vezes, sofrimento
Aqui estão: uma pedra-fóssil, um minúsculo baú pintado por dentro, a querida L. comigo a rir, num caminho do sul, três pequenas estatuetas de deusas indianas, duas caixinhas com bonecas índias da Guatemala, um quadro de Picasso vindo de Londres, uma estrela de contas roxas, o menino pequeno cheio de caracóis
(acho que tive chá a mais, em pequena)