Wednesday, February 24, 2021

Livro de Mágoas

O "Livro de Mágoas", poesias de Florbela Espanca, foi editado pela primeira vez em 1919. Florbela nasceu em Vila Viçosa em 1894 e morreu em Matosinhos em 1930: viveu apenas 36 anos. Uma parte deles no Alentejo, o que me faz pensar na distância daqueles lugares, naquele tempo recuado. Talvez as palavras dela tivessem sido amassadas com os sentimentos dessa longitude deserta.

Sempre gostei, desde o liceu suponho, dos sonetos, nostálgicos e sofridos, desta poetisa. Mas tinha apenas uma vaga ideia da vida dela, o romance negro que foi a sua passagem neste mundo. O que corrigi agora, com a lembrança que me ocorreu: este lugar (aqui escondido) parece "um livro de mágoas". Nascimento e relações familiares tumultuosas que explicam o seu sentir de mulher pouco comum.

Lembro que Zeca Afonso cantava "...leva as mágoas para o mar..."

Mágoas que temos todos, das mais diversas, fundas ou das que passam como aves de arribação: muitas delas tornam aos mesmos lugares, como as mesmas aves. Neste tempo de estranhas formas de vida, surgem com mais intensidade, as perdas, os afastamentos.

Vila Viçosa, Maio 2009, fui visitar o seu túmulo, erigido naqueles tons do mármore que lembram a pele. Acho que hoje não iria.



O livro da colectânea dos seus "Sonetos" anda por aqui, na prateleira dos poetas, entre

Herberto Helder e a "Poesia Toda"

Frederico Garcia Lorca nos "Trinta e Seis Poemas e uma Aleluia Erótica", na bela tradução de Eugénio de Andrade

Fiama Hasse Pais Brandão nas "Fábulas"

Por demais as mágoas conhecidas.

A propósito de uma troca de mensagens com (a) M.(miga), eis que medito para mim: "Mágoa" é uma palavra de que gosto muito. Não é sofrimento, não é dor, não é saudade, não é sentir a falta, não é desespero, não é solidão, não é vazio. É tudo isso e mais. É ... mágoa, uma espécie de pena doce.

 


Thursday, February 18, 2021

De mar, a Foz


Passava como um tormento

na sua força de água

e no seu sopro de vento. 

***

Vi estas palavras quando vi a fotografia!

Thursday, February 11, 2021

Anseios e Vertigens

Todo este tempo - um ano após andarmos a passear e a correr à beira mar! - me dá vertigens. Vertigens da vida que somos forçados a levar,  neste momento em que sair é "não poder sair". E não é que eu saia muito... anyway, não gosto de ser forçada, nunca gostei. Procurei escapar às normas estritas sempre que possível no meu percurso, derivando, dissimulando, escondendo, inventando.

Deixo um apontamento pensado neste dia já Fevereiro-cinza-nevoento, como anseio. Que possa manter este lugar em que vivo, conservado há 40 e muitos anos, com porta de fechar e vidros de evitar. Tão habitado foi, conhecido e sossegado, rodeada das mil e uma coisas de viver; e ainda...

 

observar e fruir da beleza, lá longe, nos espantosos momentos do dia e da noite
sentar-me numa pedra e ver como a terra desdobrada à frente é linda
caminhar pela maré vaza, os rochedos e o sargaço de bom cheiro, do tanto a Norte
e viver, sentir, estar, com a minha flor amarela, a minha pequena Primavera.
Coisas simples - como fazer uma sopa de letras - e tão difíceis me parecem.