Saturday, March 26, 2011

Do não-esquecimento

Nenhuma água lava a mágoa

a cancela em baixo
os ladrões do tempo
os muros onde amorosamente me encostei


Não perdôo o roubo de tantas horas felizes
que me fizeram alguns alguéns

por maldade, poder, fingimento

nada as trará de volta

2 comments:

Justine said...

Tanta amargura, amiga! Transmitida de uma maneira muito bela, mas tanta amargura...

Lizzie said...

A mágoa pode ser uma dor sem músculo. Talvez seja por isso que é tão calada e não se expande em zanga, em explosão.

E existem circunstãncias em que só uma certa violência interior ou exterior lava a dor. Uma espécie de luto pela ilusão.

Porque a maldade existe sob várias formas e é infinita e intemporal.

Pessoalmente, só tenho medo da mágoa provocada pela morte dos outros, aqueles a quem me encosto.
A morte é uma maldade irreversível.

Ou de um silêncio aflito que se lhe compare.

Das várias outras mágoas, a dor de um dia transformou-se numa estrada aberta e libertadora no outro. Como se o destino me avisasse do que não deveria seguir.

E foi essa a forma de a lavar: agradecendo-lhe.

Mas há coisas e coisas e cada um...

Beijinhos