Sunday, December 13, 2020

E Dezembro descontente

Fica-se, anda-se, com um amargo, um difuso, sentimento de impotência.

Ah, bem sei que não sou só eu... que pretensões não tenho e estou documentada sobre o país e o mundo, além de saber dos meus próximos. Há os doentes, os separados, os que estão sós. Com essas tragédias a que (ainda) não estou sujeita.

Mas estou a ver O MEU dia, os meus dias que se seguem. O descontentamento instala-se em MIM. E é esse que verto na intimidade. Agarrada. Desmembrada.



E Lisboa? Lá está, lá fica. Um ano.


Friday, November 6, 2020

Novembro a contra-gosto

... a conta-gotas, porque não o quisemos tão depressa, tão cinzento e chuvoso. Tão alvoroçado de notícias, deste mundo e do outro. Continuam a chegar-me abóboras, sorridentes, divertidas, em fotografias que dão a volta a metade do mundo, vivências que se apartam de nós, os daqui. Do estado da Europa também. Raramente vejo notícias, leio-as usando a peneira do meu discernimento.

Todos os sinais estavam a ser dados e transmitidos, uma invasão que principiava/parecia mansa, de um capital sem escrúpulos, de liberalismos à revelia dos anseios de pessoas comuns, de gente - que normal? - "escondida" nas suas ideologias fascistas. Há muito. Nestas últimas décadas?

As mensagens pelos diversos aparelhos aumentam. As vozes e as caras agradáveis esmorecem, algumas notam-se de pura perfídia, outras são recordações de presenças físicas: porque agora estamos todos em distanciamento de vigília. A tecnologia que comanda "isto" está cada vez mais atenta e de olhos vesgos; e troca as voltas, e repete avisos, e copia. E invade.

Melancolicamente zangada. Olho a lua e os fins de tarde, da janela. Cogito e medito.

Quantas vezes espreitei estas janelas de manhã mas principalmente à tarde? Uma delas, as que reflectem o sol antes de se recolher, esteve há anos à venda. Vi o anúncio detalhado e andei por ela, era antiga mas airosa e confortável. Posicionada como gosto, Nascente-Poente, e a varanda não tinha prédios onde se me cortasse a vista. Tinha um sótão onde sonhei colocar livros e pinturas. Nunca lá vejo ninguém, em todos os dias que a procuro.




Os reflexos, das coisas e das pessoas, tiveram sempre para mim um encanto, ou uma inquietação, que é inexplicável. Como ver e sentir em diferido. Será assim a minha memória um espelho, onde vejo outros pormenores que me escaparam quando os olhei/vivi directamente.


Wednesday, September 9, 2020

Lugares...

Seguindo "os lugares", ficam-me memórias muito belas
2008/2009/2011



Pelos vastos montes. Do Alentejo.


Friday, September 4, 2020

Lugares onde fui feliz

Não caberiam numa vida,  para os destacar.
Fui (e fomos, porque há muitas e diversas companhias neles) feliz em muitas das terras, cidades, que visitei. Em acasos, monumentos e ruas. Em aldeias, montes e pedras. Em mares ou até, simplesmente, no ar.
A primeira vez que se foi a Lisboa, Outubro 1968, uma chuva imensa na recta de Rio Maior.
A primeira vez que andei de avião.
Era o pôr do sol, as cores tão nossas mergulhadas no mar a que voltei as costas, no autocarro que corria a pista para me levar, sozinha. Chorei todo o tempo, cheia de medo, do que ia fazer, alguma pena do que deixava, interrogações sobre a vida que me esperava. Inquieta.
Vejo-me. Sinto-me. Torno a ver-me em cima, no avião, a olhar o céu, espantosamente luminoso, de um rosa avermelhado, um faded lilás, de cidade grande. Só mais tarde percebi que era isso, o reflexo das luzes da enorme cidade. Hoje sou capaz de ver, num dos meus mapas mentais, o percurso com a "minha patroa", do aeroporto até Hampstead Heath. Encolhida, tantas as ruas, tão diversas paisagens que os meus olhos aflitos registavam.
Desses anos, tenho muitas fotografias de pessoas, poucas do que via: a importância das pessoas na minha vida. Podia nomeá-las pelos nomes.
Agora, estão nos basements da memória
As minhas recordações mudas e, contudo, vibrantes


Os meus alfabetos interiores de que apenas eu sei ler o sentido
Águas passadas




 So long...

Thursday, July 30, 2020

Outras considerações

Há muitos mundos. Se me sinto sitiada no meu, não quer dizer que outros não existam.
Esta janela da net permite-me procurar, saber e sonhar.
Com outros horizontes.
Uma visita antiga a uma galeria de Arte.




Uma viagem "a ver as ilhas" onde nunca fui.


Sonhos de areia.

Wednesday, July 15, 2020

Desculpa

...Filho! Dissemos-te que o mundo era bonito.
Mostrámos os céus e os mares, os campos, as flores, os caminhos, a Natureza diversa, os monumentos da nossa História, falámos das coisas boas da família, corremos contigo, cantámos cantigas, comprámos tantos livros que explicavam a Humanidade, música variada para aprenderes os clássicos e os outros, falámos dos rios e das pontes, comprámos os brinquedos em todas as idades para teu divertimento e instrução, fomos à praia e ao pinhal, explicámos as pedras, os pássaros e a terra, no pouco tempo que nos sobrava do tempo longo do trabalho. Dissemos que tudo poderias superar experimentando e emendando o que não fosse correcto, preparando-te, estudando, aprendendo.
Afirmámos-te que o mundo era bonito, tinha luzes que poderias ir acendendo pela vida fora, iluminando os teus dias.




Não sabíamos, não soubemos, dizer-te que o "viver dia a dia" tem correntes, a vida pode ser fechada a cadeado, que há muitas coisas com duas, ou várias, faces.


Desculpa por não termos almofadado,
alma-fadada,
o teu tempo de agora.
Não te explicámos que para teres o sol na tua vida terias tu de o ir inventando.



Thursday, July 2, 2020

De crenças e descrençs

Acordei perplexa. A pensar nos rastos e restos dos sonhos. Casas, pessoas, diálogos e sítios onde, em sonhos, já fui, já estive. Será possível que se visitem lugares, a dormir, em que já sonhámos ou onde estivemos em sonhos?
Nem descrente, nem incrédula.
Descrédula, sendo que não há uma interrogação mas uma negação daquilo em que acreditei.
Não de propósito, apareceu-me um terraço.
Não há nenhuma ligação entre o que, sempre, desejei e o que, nunca, consegui. Um fio de aranha ao vento dos quereres que todos ignoram.

São lugares apenas. Onde se me espraiam  as vontades.


Sunday, June 7, 2020

No fim do mundo me parece

Tenho por cá muitas pedras, de muito sítios.
(algum dia terei de me desfazer de algumas)
Aqui em frente, pisas de tantos papéis soltos, há quatro:
- uma da Lota, cheia de conchas amalgamadas, de 2009
- uma de dos Caminhos de Santiago, de 2010
- outra da Praia Grande, de 2011
- outra de Monfortinho, de 2005: esta!
Todas me lembram distâncias que revi, verdes e azuis  e amarelos que, só de os lembrar, me fascinam. Acho que até me desce a tensão para valores normais...
Há um alvoroço de viagem que presentemente me preocupa mais que nesses tempos, os das pedras.


Do horizonte a varanda - e águias, todas as manhãs o grupo vinha dar as suas voltas solenes







Então, os passeios: ida a Las Urdes, a propósito de Luís Buñuel, filme "Terras sem Pão", de 1933. Sair e ver, com um pretexto!



Será que ainda há caminhos desertos como este? E oliveiras mais velhas 15 anos?

E esta gente? que foi feito dela, das suas vozes e histórias?


Prometo-me NÃO trazer mais "calhaus"!
Só recordações.


Saturday, May 16, 2020

Janeiro longe

As crianças olham o desconhecido com curiosidade e sem inquietação. Seja um aquário, seja o Capuchinho Vermelho multi-funções, que ora é lobo, ora lenhador, ora avó. No que penso, as crianças estão sobretudo a olhar o belo, o diferente, a apreender emoções. Positivas. Confiantes.





Para mim, é um único traço forte que me prende à vida: as perguntas, as suas conclusões tão próprias, os seus olhares de carinho e divertimento.

Friday, May 15, 2020

De-confinar

Não sei se desfocado
se pela humidade nos olhos
se pela distância

Dizemos: e se nos acontece alguma (desta) coisa e nunca mais os vemos?
E a simples interrogação nos dá uma angústia difusa, um alarme, um espanto, um susto que não aguentamos.
Parece improvável. Mas existe.


Monday, April 27, 2020

Os livros antigos

Do PPP, uma proposta para escolher um livro que tivéssemos lido, não importava quando...
Um dos livros mais importantes "do meu tempo" pequeno foi este:

Calculo que pelos 9 ou 10 anos o tive. Eu comecei a ler antes de ir para a escola primária. Há portanto um lapso de tempo em que lia, ávida-a-mente, os livros ou revistas diversos e variados, em casa dos vizinhos ou nas prateleiras altas, o que vinha à mão.
Sendo - e sou - muito curiosa e dependente de leituras, prefiro procurar a perguntar, daí a pôr-me a ler, literalmente, o Dicionário. E havendo poucos livros em casa, este estava à mão para encontrar palavras e significados de coisas que ouvia ou lia; e de uma palavra ia a outra! Ao mesmo tempo, entrando no liceu, tive o Atlas, o autor era  pai do "vaidoso iluminado pela democracia em liberdade" e esse grande livro então! era uma maravilha, com os seus mapas, constelações e fotografias antigas do mundo como se conhecia. Já viajava por ele.
Mas, ao mesmo tempo (e não posso alongar-me pelas vezes em que pedi emprestado, trepei a algo mais alto para encontrar que ler em sítios esconsos... e lia tudo, mesmo tudo), havia os livros de infância que não esqueço e guardo ainda religiosamente:
- "História da Civilização" de Tomás da Fonseca, onde aprendi a sucessão dos anos antigos, Grécia, Roma, batalhas, conquistas, deuses, mitologia e símbolos
- "A maravilhosa viagem de Nils Holgersson através da Suécia", de Selma Lagerlöf, que me levou a ver pelo ar, agarrada ao pescoço de um ganso selvagem, as florestas densas e os gelos, os hábitos das pessoas e os bichos do norte
- "As mil e uma noites", edição de 1940, sem figuras, os contos de Scherazade, com todo o encanto das viagens e aventuras, histórias de que ainda hoje lembro os pormenores
- "O Feiticeiro de Oz", edição de 1946 (tradução de Maria Lamas), onde a viagem de Dorothy, do Espantalho Errante, do Lenhador de Lata e do Leão Medroso, em busca do Mágico de Oz (pela Yellow Brick Road, a música sempre me faria sorrir mais tarde!), era um encantamento
- Os livros do Dr. Vander, um luxo do meu pai, com toda a anatomia dos corpos e curas pelo Naturismo, muito antes de se falar nos "bios"


Comprei para o meu filho, e reli, mais tarde todos os livros "dos Cinco" que em pequena me inclinaram logo a tendência para a Inglaterra, os pequenos almoços e lanches, e aquelas terras verdes imensas e misteriosas. "As Viagens de Gulliver", os livros da Colecção Azul e da Condessa de Ségur, "O Gato das Botas", "Alice no País das Maravilhas". Serão estes alguns dos mais importantes na minha formação de criança, antes dos 10 anos.
Acompanhada estava, na minha pequena família sem irmãos nem primos.
Mas como a Memória nunca está sózinha,

mesmo no Silêncio deste confinamento, ainda tenho esperança que o vírus, "O Feiticeiro de Oz", seja um embuste, uma invenção maldosa, amparada pela comunicação e ampliada pela necessidade do negócio globalizado,
e o Mundo encontre um Caminho para a Felicidade.