O Mel e o Fel.
Sem fotografias, apenas uma tristeza de fim de ano.
Os três macacos (não ver, não ouvir, não falar) cá estão na prateleira.
E nunca pensei que pudessem corresponder tanto à realidade.
Monday, December 19, 2016
Tuesday, November 22, 2016
Há muito tempo
Desde pequenina que sabia com não queria "a casa" que viesse a ser minha, ou apenas de viver nela.
Que fosse o contrário da nossa: lugares atabalhoados e sem espaço, de tábuas velhas que a minha avó esfregava com sabão amarelo, de móveis remendados. Talvez se salvasse o colchão de folhelho mas isso sei hoje porque os ossos não se dão bem com tanto sintético!
Os casacos e outras coisas penduradas atrás das portas e ao fundo da cama da Vitórinha, serviam-me para imensos diálogos, quer-se dizer, mais monólogos meus com figurantes de um teatro imaginado.
Mas... se não conseguia "visionar" - ou visitar - uma casa por dentro, servia-me das revistas para "ver": a Flama ou o Século Ilustrado e ainda, com um bocado de sorte, a Life ou o Paris-Match. Esticada para chegar às prateleiras, na parede por cima da cama duma vizinha, ali encontrava as revistas e "o mundo" desconhecido.
Daí me lembrar, de mente solta, das desventuras de Soraya com o Xá da Pérsia (casaram em 1951!) e do aparecimento de Farah Diba (casaram em 1959), daquela princesada inglesa, família toda, e até das aventuras da malfadada Wallis Simpson... E não eram os vestidos e jóias que me chamavam mais a atenção pequena: era o espaço, os móveis, as decorações, eram as paisagens.
Dos filmes e actores nem me adianto muito, conhecia-lhes a vida e as mortes (James Dean morreu em 1955, o acidente que desfigurou Montgomery Clift deu-se em 1959, Marilyn Monroe suicidou-se em 1962...).
E aí com 10 anitos, assinava Liz por causa do deslumbramento alternativo de Elizabeth Taylor e as suas aventuras amorosas, sempre livres me pareciam, e sempre surpreendentes.
Mas ia falar da casa que não quereria...
Que fosse o contrário da nossa: lugares atabalhoados e sem espaço, de tábuas velhas que a minha avó esfregava com sabão amarelo, de móveis remendados. Talvez se salvasse o colchão de folhelho mas isso sei hoje porque os ossos não se dão bem com tanto sintético!
Os casacos e outras coisas penduradas atrás das portas e ao fundo da cama da Vitórinha, serviam-me para imensos diálogos, quer-se dizer, mais monólogos meus com figurantes de um teatro imaginado.
Mas... se não conseguia "visionar" - ou visitar - uma casa por dentro, servia-me das revistas para "ver": a Flama ou o Século Ilustrado e ainda, com um bocado de sorte, a Life ou o Paris-Match. Esticada para chegar às prateleiras, na parede por cima da cama duma vizinha, ali encontrava as revistas e "o mundo" desconhecido.
Daí me lembrar, de mente solta, das desventuras de Soraya com o Xá da Pérsia (casaram em 1951!) e do aparecimento de Farah Diba (casaram em 1959), daquela princesada inglesa, família toda, e até das aventuras da malfadada Wallis Simpson... E não eram os vestidos e jóias que me chamavam mais a atenção pequena: era o espaço, os móveis, as decorações, eram as paisagens.
Dos filmes e actores nem me adianto muito, conhecia-lhes a vida e as mortes (James Dean morreu em 1955, o acidente que desfigurou Montgomery Clift deu-se em 1959, Marilyn Monroe suicidou-se em 1962...).
E aí com 10 anitos, assinava Liz por causa do deslumbramento alternativo de Elizabeth Taylor e as suas aventuras amorosas, sempre livres me pareciam, e sempre surpreendentes.
Mas ia falar da casa que não quereria...
Wednesday, September 14, 2016
Coisas
Ontem estava tudo calmo, sem ninguém, só sombras, formigas.
Mas tudo velho, ressequido do sol.
Teria muitas coisas para contar mas só me surgem interrogações.
Como pedras.
Mas falaríamos de meninas, também.
***
Deixei uma rosa branca e outra vermelha. Percebe-se.
Mas tudo velho, ressequido do sol.
Teria muitas coisas para contar mas só me surgem interrogações.
Como pedras.
Mas falaríamos de meninas, também.
***
Deixei uma rosa branca e outra vermelha. Percebe-se.
Monday, August 15, 2016
Elsinore e o seu castelo
Passeio.
Entraram e saíram da minha vida como se se passeassem nela. Não limpavam os pés à entrada, deixaram marcas e, tantas vezes, nem ouvia a porta (da vida) bater: de repente o vazio ou o silêncio.
Pessoas, amigas, amores.
Vivos sem rosto ou mortos no tempo.
Se procurasse, fazia uma lista grande de desaparecidos; ou apenas, e tão somente, dos que não sei o destino.
De Mário Cesariny a parte do poema "You are welcome to Elsinore", lugares míticos.
"...
Ao longo das muralhas que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
..."
Entraram e saíram da minha vida como se se passeassem nela. Não limpavam os pés à entrada, deixaram marcas e, tantas vezes, nem ouvia a porta (da vida) bater: de repente o vazio ou o silêncio.
Pessoas, amigas, amores.
Vivos sem rosto ou mortos no tempo.
Se procurasse, fazia uma lista grande de desaparecidos; ou apenas, e tão somente, dos que não sei o destino.
De Mário Cesariny a parte do poema "You are welcome to Elsinore", lugares míticos.
"...
Ao longo das muralhas que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
..."
Friday, July 29, 2016
Mar e Lua
Quantas vezes falei à lua
e quantas vezes olhei o mar?
Muitas, depois dos 11 anos, quando vivíamos a passos da praia
e nos invadiam aos fins de semana, regurgitavam
- as famílias que se esqueceram de nós -
e o tal marido ia à pesca, sempre atento às marés,
e a avó trabalhava tanto
e eu,
o campo que tínhamos de cuidar. Madrugadas e noites.
E as tuas mãos longas-brancas - dizia a Sarinha "mãos de prata" e era para mim o mais belo, este dizer - no escondido de ti, na intimidade de ti, no que nunca compreendi de ti, desse atamento.
Também um dia não ficarei, não estarão as rochas que espreitava,
serão outras, que vem a areia, que vem o vento, que vem a água
que o tempo (se) passa
e ninguém saberá
das minhas mãos diferentes-morenas e
atamentos.
e quantas vezes olhei o mar?
Muitas, depois dos 11 anos, quando vivíamos a passos da praia
e nos invadiam aos fins de semana, regurgitavam
- as famílias que se esqueceram de nós -
e o tal marido ia à pesca, sempre atento às marés,
e a avó trabalhava tanto
e eu,
o campo que tínhamos de cuidar. Madrugadas e noites.
E as tuas mãos longas-brancas - dizia a Sarinha "mãos de prata" e era para mim o mais belo, este dizer - no escondido de ti, na intimidade de ti, no que nunca compreendi de ti, desse atamento.
serão outras, que vem a areia, que vem o vento, que vem a água
que o tempo (se) passa
e ninguém saberá
das minhas mãos diferentes-morenas e
atamentos.
Monday, May 9, 2016
Cravos e distância
Deixo cravos, deixo espaços do ar, e
mais flores,
nesta plataforma estonteante que é a vida, os sustos e prazeres.
(nem tinha visto que mais de 2 meses passaram... e eu sem tempo. O que não quer dizer, neste caso, intemporal).
Talvez, como as pessoas, as cidades amam-se ou odeiam-se melhor quando as conhecemos bem.
mais flores,
nesta plataforma estonteante que é a vida, os sustos e prazeres.
(nem tinha visto que mais de 2 meses passaram... e eu sem tempo. O que não quer dizer, neste caso, intemporal).
Talvez, como as pessoas, as cidades amam-se ou odeiam-se melhor quando as conhecemos bem.
Friday, February 26, 2016
Dia de Anos
86 anos.
Desapareceu "O Chiadinho", é uma loja de ninharias agora, como muitas que há por todo o lado. Pesa-me andar por ali, se calhar escrevia um livro de memórias só a contar as histórias daqueles lugares. Num raio de 500 metros passava-se a nossa vida toda!
Se tu visses como estão diferentes as ruas... o jardim, as casas: e eu.
Tu, nem sei, só me existes de pensar.
Desapareceu "O Chiadinho", é uma loja de ninharias agora, como muitas que há por todo o lado. Pesa-me andar por ali, se calhar escrevia um livro de memórias só a contar as histórias daqueles lugares. Num raio de 500 metros passava-se a nossa vida toda!
Se tu visses como estão diferentes as ruas... o jardim, as casas: e eu.
Tu, nem sei, só me existes de pensar.
Sunday, January 24, 2016
Dia de voto
Hoje fui votar como sempre, convencida do melhor, da utopia. Levei um alfinete da minha sogra na camisola. Sei que ela iria gostar; e que gostaria, mesmo com alguns anos em cima dos noventa e as costas curvadas, que a fossem buscar para "ir pôr o voto".
(estes lugares são estranhos, dão-me muitas vezes para mais nostalgia)
(estes lugares são estranhos, dão-me muitas vezes para mais nostalgia)
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