Tuesday, November 22, 2016

Há muito tempo

Desde pequenina que sabia com não queria "a casa" que viesse a ser minha, ou apenas de viver nela.
Que fosse o contrário da nossa: lugares atabalhoados e sem espaço, de tábuas velhas que a minha avó esfregava com sabão amarelo, de móveis remendados. Talvez se salvasse o colchão de folhelho mas isso sei hoje porque os ossos não se dão bem com tanto sintético!
Os casacos e outras coisas penduradas atrás das portas e ao fundo da cama da Vitórinha, serviam-me para imensos diálogos, quer-se dizer, mais monólogos meus com figurantes de um teatro imaginado.
Mas... se não conseguia "visionar" - ou visitar - uma casa por dentro, servia-me das revistas para "ver": a Flama ou o Século Ilustrado e ainda, com um bocado de sorte, a Life ou o Paris-Match. Esticada para chegar às prateleiras, na parede por cima da cama duma vizinha, ali encontrava as revistas e "o mundo" desconhecido.
Daí me lembrar, de mente solta, das desventuras de Soraya com o Xá da Pérsia (casaram em 1951!) e do aparecimento de Farah Diba (casaram em 1959), daquela princesada inglesa, família toda, e até das aventuras da malfadada Wallis Simpson... E não eram os vestidos e jóias que me chamavam mais a atenção pequena: era o espaço, os móveis, as decorações, eram as paisagens.
Dos filmes e actores nem me adianto muito, conhecia-lhes a vida e as mortes (James Dean morreu em 1955, o acidente que desfigurou Montgomery Clift deu-se em 1959, Marilyn Monroe suicidou-se em 1962...).
E aí com 10 anitos, assinava Liz por causa do deslumbramento alternativo de Elizabeth Taylor e as suas aventuras amorosas, sempre livres me pareciam, e sempre surpreendentes.
Mas ia falar da casa que não quereria...





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