Saturday, February 26, 2011

MM de Minha Mãe



Não te juntei com ela, Mãe, porque é mais dela que me lembro nessa data.
(Se calhar acontece-me como com a tua, recordámo-las melhor pelo amor que nos deram; e quando já é passado).
Nunca foste uma grande Amiga, servias-te mais de mim como um escudo teu. Balançaste o teu amor para um lado só e nunca te posicionaste - nem hoje o dizes - contra a dura e sobressaltada vida que os dois me deram.
Não tivemos conversas "de coração", Mãe. Escapavas-te aos meus problemas para proteger a fachada da família e sempre-nunca tiveste culpa nenhuma. Como o dizes variadamente.
Mas será que as árvores floriram assim no dia em que nasceste, há já tantos anos?
E será que o teu lamuriento sorrir de agora se aproxima vagamente do riso que tinhas comigo ao colo?
E amarei eu mais essa figura bonita e frágil mas determinada (a ter a filha tão nova, a casar, a trabalhar) do que a espalhafatosa senhora das mil objecções em que te tornaste? Posso eu hoje deixar de recordar a roda a que nos ataste a ambas?
Mãos de prata te diziam.
Dá-me as tuas mãos, Mãe, e vamos passear pelo que "gostaríamos de ter feito juntas".

Friday, February 25, 2011

A de Amiga


Não me importo assim muitíssimo de morrer
mas queria morrer sedada
com a droga como seda a afundar o barco das lembranças
não quero angustiar-me nos minutos da passagem
com os rostos; e lembrada
das malfeitorias que nos fizeram
- que fazem e vão fazendo.

Nem é precisamente das palavras que me queixo, L., basta o silêncio de nos ignorarem.
A rapsódia cordial.
Nesse riso alentejano, nesse azul algarvio onde nos entendemos como irmãs de sangue e segredo,
ficaremos as duas.
Porque a gente, L., vive bem tão bem quanto o imagina a memória dos que amamos.
E a ti, a mim, muitos amaram mal.
Amaram-se a si mesmo: não a nós, L.

Sunday, February 20, 2011

Ainda, as pedras








Porque me apetece ver um amor luminoso
eterno
datado
de tantas vezes que não dou por ele

Abre-se uma grade que range no tempo
um ferrolho que guarda
imagens de interrogação

Uma janela do mundo, um carinho de renda

expressão da pedra e do sentimento
num labor íntimo com o passado

Saturday, February 12, 2011

Pedras






Que olho ou vou (remo) vendo.
Segredos não mentiras.
Conservam a memória do frio, a memória do calor.

Porque me será esta apetência e este falar delas e com?
Dos veios, dos tempos, dos pés - dos princípios do mundo me sinto.

Tão nua e marcada como uma delas.