Wednesday, March 8, 2023

Outro lugar (antigo) I

Estamos já no ano seguinte, 1972. A mesa de um casamento: todos nos vestimos muito bem, bonitos, essas fotografias estão preciosas, de cor e  estilo. O registo civil tinha um ambiente com a solenidade de uma igreja. Sei que o  vestido de M. foi desenhado/inventado por ela e costurado pela mãe, em Portugal e era lindíssimo. Sempre fomos três amigas diferentes mas muito originais, F. tinha partido para um destino incerto e que desconhecíamos. A festa foi improvisada, o mais possível cozinhando à portuguesa, há muitos pormenores curiosos e divertidos ligados a esta comemoração. Lembro-me que abundavam os crisântemos, aqui ligados ao culto dos mortos mas em Londres como outras flores quaisquer, de todas as cores, declinações de brancos, lilás, amarelos, rosa.

No dia seguinte, fomos a Brighton, seria de comboio, andámos no belíssimo Pier vitoriano, apanhámos sol e, pela primeira vez, vimos uma praia sem areia, apenas seixos... Hoje fui procurar imagens actuais e vejo está tudo muito arranjado, até tem uma roda gigante. Mas isso das rodas, dos repuxos, das rotundas, dos passadiços, dos arranha-céus espelhados, das bicicletas e dos cortes de árvores (pensando agora e aqui, sem me estender mais...) é uma moda de aparente modernismo, civilidade e entretimento, em todos os lados. Como se diz agora: "transversal".

E aproveitando o conhecimento que parece mundial... tive agora o gosto de ver melhor a frontaria e interiores deste "Grand" hotel: ali continua, com as suas varandas e decorações Arte Nova, o espaço luminoso, o tipo de ambiente, que dirão pouco moderno e eu acho eficiente e intemporal, comparativamente às luxúrias que vou vendo mesmo cá - por ex. na Foz é mais do dobro -, até nem é muito caro. E é destas lembranças e permanências que "I long for".





"Along Fulham Road" mercado na rua e lojas alternativas e a granel, os talhos com "pigs trotters" e a primeira vez que se encontrou vinho português "Gatão". Onde se comprava louça inglesa no "reject shop" de um grande armazém, andam por aí as peças, pratos, terrinas, travessas - nem tão defeituosas são, apenas umas de desenhos mais pálidos que outras... Para nós, sem ter acesso às lojas chiques, era um gosto.
Já a trabalhar em outro hotel, o Cranley Gardens, um quarto bonito e agradável, virado para um parque. Onde as caras e alguns nomes me surgem do nada. Lembro-me que tinha os dois aquecedores acesos, mesmo debaixo das janelas, e com elas geralmente abertas: sempre gostei disso, conforto e ar puro. Reparo, agora, que foi a primeira e única vez que vivi com vistas para as árvores. Tanto gosto eu de observar as mudanças das estações do ano.

O lugar, a nossa aparelhagem e discos, os nossos livros... Um xadrez das nossas vidas. "The long and winding road, will never disappear"



A vida era bem difícil, seriam extras, mas tenho pena de não ter tirado mais fotografias.


1 comment:

M. said...

E eu vibro ao ler-te e não estive lá. Brighton traz-me à ideia aquele livro de Arnold Bennett em 3 volumes "Clayhanger", "Hilda Lessways" e "These Twains" que me encantaram. E mais tarde os CDs maravilhosos que uns amigos me encomendaram na Amazon com a série baseada no livro. Espantosa história, espantosa representação, actores fabulosos. É tão bom e enriquecedor recordar!