Friday, October 18, 2019

Aguarelas e apontamentos de criança

Ultimamente, quando se compra revistas ou jornais, é porque são férias. Ou se escrevem postais. Ou se aponta o que vai passando para "depois de".
Assim foi na Visão, um artigo sobre Tolentino de Mendonça, agora cardeal. Figura que já conhecia e apreciava, do esforço de humanização e proximidade da religião. Dá-lhe um sentido.
Li aí palavras "que vieram ter comigo" nesta fase de pensar em menina pequena. Aqui as aponto.

"O mistério está todo na infância
é preciso que o homem siga
o que há de mais luminoso 
à maneira da criança futura." 

"Sentar-se no colo de uma avó e ouvir  uma história é ganhar para a vida um amor pelas histórias e pelos livros."
 



Neste Percurso de Ternura onde vais?
minha bela borboleta


minha flor a desabrochar em água de mundo


"Imagino que, no fim da minha vida, hei-de encontrar a minha primeira casa, o primeiro rosto que olhei, os primeiros que conviveram comigo, o primeiro pão que comi, os primeiros nomes que escutei. Para mim, ao fim da rua existe a infância. Não como realidade deixada inevitavelmente, mas como metáfora daquilo que me espera."
***
Entre muros e distâncias, és para mim o azul.
Talvez possas pensar, num dia, ao longe:

"É muito bela esta mulher desconhecida
que me olha longamente
e repetidas vezes se interessa 
pelo meu nome." 
***
Eu recortava papéis de jornal, pintava e desenhava, fazia colagens de bailarinas e flores, há muitas décadas, para uma mulher que também assim se chamava, de mau feitio diziam, mas que gostava muito de mim. Eram os quadros e os enfeites que tinha na sua pobreza, para colocar nas prateleiras dos pratos e tigelas, ou em cima da cómoda.


 (fotografias recolhidas na exposição no Museu Etnográfico de Campo do Gerês)
Na cidade, também os armários e a louça semelhantes. Lavar na pia comum.
A minha primeira casa, com os primeiros que conviveram comigo, dos primeiros nomes que escutei... avó Vitorinha, Leopoldina, Alice, Sarinha, Menina Lúcia, Mariette e Marietinha, Custodinha... a cada um corresponde uma história de vida que vou (ainda) lembrando.
Tantos "nunca(s)" calados.


 

1 comment:

M. said...

Acho muito bonito este teu post mas não sei se funcionará assim com toda a gente, dependerá da empatia que existir entre a criança e o adulto, e da própria criança ser mais ou menos sensível. Não sei, não sei mesmo. Mas quem dera todos nós pudéssemos deixar uma marca bonita no coração de quem nos sobrevive. Quem dera, quem dera. Tantas marcas se perdem na agitação da vida que nos rodeia e nos entranha. A desatenção ataca subrepticiamente e segue outros caminhos.