Thursday, December 20, 2018

Avós

Homenagem a pessoas simples. Dezembro 1938: morria o avô Antero.
Dele, só sei das fotografias, sempre sério. Do que diziam, sei que era bom.


De 6 filhos, apenas ficou a minha mãe. Do fundo do tempo, eu surgi, por ela, que tinha 18 anos.
1978. Ao avô Antero, de quem actualmente ninguém lembra o nome, nasceu-lhe um bisneto, meu filho. Neste tempo presente, 80 anos passados, há uma neta nossa que tem os azuis de olhos familiares.
Dos ramos, podados que são, folhas novas.
Em números de oito(s) me movo, em infinitos.
48, 58, 68, 78, 88, 98: receei este ano, ainda não acabado.

Da correcção corajosa com que viveram a vida, num outro século, ficou-me também esta tristeza séria, este modo de ser.

Wednesday, November 7, 2018

O Casaco

Passam meses, passam anos.
Acho que só tenho uma maneira de viver de acordo comigo: repartir, coisas ou sensações. Pelo bem, pelo bem, trá-lá-lá...
Tenho pensado nos últimos anos que "se me retornasse tudo o que dei" na vida, seria uma pessoa mais rica, seguramente. Decisão de (algumas) pequenas arrumações, que as grandes são de outros tempos atrás: listas que fui fazendo, propósitos, que ia riscando à medida de os ter feito. Passos gigantescos, memórias agarradas como musgo antigo.
Desta vez, entre outras coisas, o "casaco de redingote"! Fui ver o termo que me ocorreu mal peguei nele, tantas são as vezes que palavras recuadas no tempo e tão estranhas me surgem no pensamento.
Do inglês: casaco de equitação riding coat e do francês: redingote sobre casaca.
Apareceu guardado desde um casamento há mais de 25 anos.
O noivo morreu há muito tempo, a noiva contente, que vou vendo às vezes, está baça e chupada como uma castanha pilada, não necessariamente por causa da falta do marido mas porque as pessoas têm percursos insondáveis. Um caminho aos zig-zags, complicado, mas qual o não é? Neste caso, um despropósito da vida, onde se nota "a cruz" assumida, de uma parecença ou marca familiar marcante. Do filho, uma criança encantadora nos primeiros tempos, não me recordo de o ver nos últimos anos; e o que sei agora não é de molde a querer sequer trocar olhares ou palavras com ele.
Comprado para a ocasião, poucas vezes foi usado, visto que me tornei prática, caseira e desempregada, pouco tempo depois.
Eis o que vai... e fica a marca neste lugar escondido, de poucas palavras, mas que hoje me apeteceu de "muitas".
Nenhuma "pobrezinha" o poderá vestir, a menos que sirva de cobertor a um sem-abrigo.


As ironias que me assaltam e que só posso confessar a mim mesma: tanta blusa, tanto fato, tanta carteira em couro, tanta secretária-gerente-sócia. Puff.
Tantas coisas de que já me livrei e outras tantas para me livrar!
Adeus "redingote"!

Monday, July 30, 2018

Há mais marés que marinheiros

... e há muitos dias, demasiados, "assim".
Em que a maré vaza e o entardecer dos tempos, como a idade e os acontecimentos, sem agrado nem apelação,
me impedem de ver as belezas no dia de hoje.
Volto atrás.

 Se penso em distanciar-me,


recuo.

Sunday, July 22, 2018

Os cartazes (recuperados) algures

Não só as paisagens
não só as comidas as flores as cores.
Há pequenas coisas, apontamentos, que acontecem e é como se visse/encontrasse gente amada e conhecida.
Assim foi nesta viagem de jardins. Isto no restaurante onde o sarrabulho é feito como sempre e parar lá, à beira rio, comer e descansar os olhos, é como sair (dos prédios), tempo e espírito voando, para trás.



Tal o tempo destes cartazes, da esperança, do muito trabalho e entrega, das horas altas da noite, dos segredos, idas e vindas. Abril 1974 em diante, um fulgor.
Hoje, um pouco dobrados estamos todos mas que haja alguém que recorde.
Num lugar improvável, fiquei feliz por os encontrar.


Sunday, July 8, 2018

Coisas de Lisboa

Nas passagens, ou como se usa para proteger as dunas da praia onde desagua a memória, "nos passadiços" de mim, vou cobrindo as noites, vou cobrindo as claridades.

Com coloridos do mundo
Pouco ouvindo e pouco falando, os meus olhos adquiriram uma maior acuidade e algures no meu cérebro são arquivados os slides momentâneos, as imagens, como uma corrente. Para trás, muitas pontas soltas, tantas vezes recuperadas nos sonhos, nos intervalos solitários.
Queaquivêm. Ou vêem.

Com doçura, escolho os pássaros da menina, imaginados há tempos, há quase um ano, de passagem por Mértola

Procuro uma tartaruga simpática, encontro os peixes a rir.
Viajo pelos sítios que conheci e pelos que nunca conhecerei.
De passagem rápida na FIA, Lisboa.
(à procura, sempre procurando as chinelas japonesas Zari Tatami que, tal como as sabrinas, fazem parte do meu imaginário de simplicidade).

Wednesday, May 9, 2018

As pequenas mãos dos outros

... antigas e de outras civilizações, dizem até depois para o intervalo de Maio.
Ontem ao ver a pobreza e as vidas num documentário de 1955, de pescadores no sul de França, pensei
que o mundo é todo igual 
em misérias e grandezas, em temperamentos e atitudes.

O verniz da civilização parece embaciar a realidade. 

... e contudo a Arte e a Natureza salvam-nos, são outros os olhos, lavados, paisagens interiores construídas com outras faces: a da imaginação e a da naturalidade dos ciclos da terra.


Saturday, May 5, 2018

A passerelle dos dias

Entram, saem, telefonam, dizem e dizem-se.
Estranheza de me sentir "separada" de tantas coisa havidas e a haver.
Ontem vi um documentário de Luchino Visconti, um realizador de que me lembro a seguir à primeira década de vida.
"Aimez-vous Brahms", 1961, música-tema do filme que me ecoa nos ouvidos. Françoise Sagan e a sua irreverência à época, os seus amores tempestuosos, as amarguras de um tempo que não era ainda o meu mas já o vislumbrava solto e preso, com mais horas de desconforto, ou desgosto, que de alegria.


Sempre com a beleza e ternura dos gestos inacabados



Soltaram-se e partiram-se mãos e amarras. São estas mais psicológicas que materiais


A lembrar gestos e pessoas, de como éramos diferentes. Uma vez vestimos blusas iguais, saias parecidas, era tudo de Londres e das mocidades bonitas.
A extravagância de sermos, ou nos fazermos, de gostos idênticos...


Poucos anos a seguir nos enfaixavam e afastavam, os homens e as vidas incomuns



Na beleza dos gestos antigos as encontro, as "Três Graças".


E suspiro, décadas de afastamento, se dias seguidos em anos nos vimos e falamos.

Sunday, February 25, 2018

Da ausência

Lembrar os teus anos, mãe, como se da tua voz
ouvisse
e fosse comprar-te um bolo e tu dissesses não vale a pena

e logo depois encher-te a ausência e o vazio
de camélias.


Monday, January 15, 2018

Um Janeiro

Um mês como outro qualquer, como outro "janeiro" antigo.
Há 40 ou 41 anos era bonito, belo, preocupado mas com novidades.
A gente está metida em casa, apascentando as doenças e penas, janelas de órbitas cegas ou viradas para ruínas. Erguer os olhos para mais longe é muito complicado, parece impossível neste presente.
Quantos outros caminhos para escolher, digamos que:
- com mais verdes
- com mais árvores, flores
- com mais pedras-falantes
Assim.







Das cores.
Dos veios e veias da terra.


Tuesday, January 9, 2018

Um ano, de novo

Passam os anos, vindos sabendo de onde: o que não sabemos é para onde.
Estes meses de Inverno, este olhar de Janus, passado e em frente, traz  uma nostalgia húmida e que se agarra à pele.
Longos são os meses passados na Primavera, nos montes, nos jardins de camélias, no sol, na esperança de. Curtos os do mar: curtos são os azuis que nos levam como brisa passageira.






Tudo isto são pensamentos, são "a fase" depois das festas e agruras várias. Como o digo, em imagens.