Saturday, December 9, 2017

70 anos - 8 Dezembro

Fariam eles anos de casados: o que os juntou, nunca cheguei a perceber bem, se foi a persistência do meu pai se a ingenuidade da minha mãe.
Sei que ele a esperava, ela 13/14??? anos trabalhava numa fábrica de meias lá para o Marquês???, e a seguia pela Rua Mártires da Liberdade.
Estiveram juntos muitos anos, pergunto-me sempre que amor cego era aquele que tanto (a/nos) fazia sofrer.


Não será um hino ao amor: antes uma celebração de coragem. Ou o inverso: da minha mãe.

Friday, November 3, 2017

Apontamento

Para apontar, de novo sem fotografia.
"O sentimento é o elefante que está no meio da sala e de que ninguém fala."

"O sentimento é quando olhamos para dentro.
A emoção é um motor, algo que nos transporta para fora de nós."

Isto é, mais ou menos, do que me ficou traço, da entrevista na RTP3, do prof. António Damásio, sobre a edição do seu novo livro "A Estranha Ordem das Coisas".
***

E encontrei, num acaso e a falar agora de Serralves com uma amiga, uma "tradução" do pensamento e da estranha ordem das coisas. 
Em 2008, o que me dá a medida perfeita das coisas que vou vendo, sentimental e interiormente, fora de sítio.

 

Thursday, November 2, 2017

De livro "Viagem ao fim da noite"

O livro, escrito em 1934, tem a data de edição de 1983, pela Editora Ulisseia. O escritor francês "maldito" Louis-Ferdinand Céline (1894-1961), escritor e médico, tem um estilo que muitas vezes nos faz descer às catacumbas da mente, à miséria dos dias. "Maldito" porque as suas obras da época foram retiradas. Ele seria anti-semita e colaborador do regime nazi em França, durante o governo de Vichy, mais tarde reabilitado. E vem-me à ideia: quantos se poderão LER que não tenham tido, de uma forma ou de outra, desvios de carácter?
Com um certo desprezo pela natureza humana, uma ironia absurda e muitas vezes debochada, Céline entrou cá em casa precisamente por alternância ao politicamente correcto, e à liberdade, que floresceu depois do 25 de Abril 74.
Reli-o agora, com a distância que nos dá a idade, colocando-o na linha de Kafka, Proust, Camus, Sartre, Gide: ou seja, livros que nos dão "da vida" um outro olhar, tantas vezes quase paranóico.
É desse livro-relido, niilista q.b., que várias partes me tocaram, particularmente nesta época da vida.
Página 271
"Descobrimos em todo um passado ridículo tanto ridículo, tanta credulidade, tanta aldrabice, que desejaríamos por certo  acabar de vez com a mocidade, esperar que ela se desprenda, nos ultrapasse, vê-la ir-se, afastar-se, olhá-la em toda a sua futilidade, dar-lhe a mão no seu vazio, vê-la passar de novo à nossa frente e depois partirmos nós, ficarmos certos de que na verdade ela se foi, a juventude, e tranquilamente, pelo nosso próprio caminho, passarmos vagarosamente para o lado de lá do Tempo, e observarmos então a verdade das pessoas e das coisas."

Não encontrei fotografia que "me retrate" nesta prosa: talvez mais tarde.
***
Encontrei: não propriamente a juventude mas o arrastamento de todos os belos e enganosos erros dela.
 

Wednesday, October 25, 2017

Das praias e coisas delas

Remoendo os lugares que nos magiciam, nos tornam mágicos, momentos de pura beleza e tranquilidade. O tempo que passo, tempo não-perdido, a focar a (simples) máquina e o olhar, tentando ver os pormenores e as poses elegantes das aves. Observando mais uma vez o mar a sul, a candura das ondas, a areia imensa e intocada. A ria, o colorido dos seus braços e barcos. O fim do dia. Quando todas as tardes vejo andar o sol, com as suas pernas de luz, de uma ponta à outra do horizonte, notando-lhe a declinação, o arco cada vez mais baixo. Todas são deste ano e não foram poucas, duas mil, repetidas que sejam!
Esqueci-me de as retocar, abrilhantar as cores, cortar sombras. São irrepetíveis, são tão minhas!




O barqueiro que já conhecemos há anos e nos conta coisas dos sítios e das pessoas dali. Foi pescador no mar alto, velho curtido pelos ventos e sol: nunca deixou de amar o mar e por isso vive perto dele, sabe todos os caminhos da ria, faz as travessias de vez em quando, sempre sorrindo, sempre cortês. 


















Ainda havia andorinhas, já não no mesmo sítio, apareciam ao fim do dia, nos seus vôos longos e rápidos: gostava de saber se preparavam a migração, se algumas eram de Maio, se os pais, se os filhos...

De nuvens, há muitas: esta parece-me um adeus

Sunday, July 16, 2017

Meninas-mulheres

Era o norte que conhecia, a praia, os nevoeiros, o caminho de pó,
os pinhais e as veredas, as pedras que surgiam do nada, no meio da natureza, com musgos e líquenes verde claro,
o vento, o sal, as algas com que fazia tranças, duma praia a outra, sempre a olhar o mar, as cantigas "Tous les garçons et les filles", e tantas que ainda hoje as sei de cor,
as camas de areia entre as dunas, umas flores amarelas com folhas como verniz,
os olhos rasos,
as palavras e o amor, a amizade e o sonho,
a ilusão e o realismo: que flutuavam apenas entre o rosa e o negro, a fuga e a presença, o escondido e o descoberto.



Onde está toda esta gente?

Os seixos do jardim: que os conheço de os ter carregado. Porque o pai tinha sempre uma missão, um objectivo de trabalho e não-distracção. "O que fizeste hoje, para o corpo e para o espírito?", a pergunta do fim do dia, desde que me lembro, teria eu 6 ou 7 anos?


Mil adolescências, momentos, mitos estilhaçados. Poesia nos pinhais.
Vento outra vez.

Thursday, July 13, 2017

Mulheres-meninas

Passam os meses sobre - e em cima, e forçando-as a submergir -
as meninas, há tão pouco tempo apenas nascidas,
e as mulheres que o foram,
ainda um riso, um tanto tonto e infantil apesar da idade,
quando a transparência deles, dos anos, nos permite ver e mostrar o que fomos e o que somos. Sofremos. Passamos.
E se, porventura e tão raro, temos momento de divertimento, uma fugaz temperatura morna, diversa da vida gelada e surda que nos empurra,
logo se nos vem a água, a mágoa,
o presente, de mão fechada e perna dormente.

Nas estações de comboios basta uma mudança de agulha, um trocar de trilhos, para que se afastem ou embatam, as carruagens da vida. Tal as pessoas.


Isto porque vi ontem o filme sobre a vida de Paula Rego. Que muitos dos seus quadros me desgostaram - não gostei deles - e ontem compreendi os caminhos das torturas. De ser fora e ser dentro (por).
Nomes que algures - Londres, famílias - se cruzaram e diferenças que nos levaram. Diversamente.

Saturday, February 11, 2017

A minha camélia-menina

rosada, de um início de ano feliz! E acho-a parecida, com as minhas camélias, sim, nas cores e na subtileza das diferenças. Os seus dedos 
de pétalas mal abertas, 
a suavidade do tom de pele

os seus olhos que parecem emergir e abraçar o mundo, uma terra azul de promessas




 Esta menina que (me)enche de luzes!

Thursday, January 5, 2017

Estrela

De partida, olho um céu pequeno, escuro, mas há uma pequena estrela que desponta.
Nasce brilhante e única como a Vénus ao pôr do sol.
Que o seja.
Olharei então o poente com reflexos. Dentro de mim.