Falávamos as duas a seguir à pergunta: "O Avô vai morrer quando tiver 90 anos?". É inesperada a sensação, como se fica sem jeito e sem palavras para responder a uma coisa tão simples. Entre as ideias que lhe dei - não se sabe... - de estrelas a milhões de anos luz, onde estão guardadas no tempo infinito todas as imagens e tudo o que se faz, a memória onde sempre vive o que, e de quem, gostamos, fui explicando que a iríamos ver, sempre e quando se lembrasse de nós.
"Eu nunca me vou esquecer de vocês."
Fiquei com uma onda-nuvem de saudades nos olhos, uma sensação de "para o além", do que se diz ou faz. Um nada silencioso que nos constrange, algures onde se entretecem os fluxos do sangue que nos faz vivos e os sentimentos do amor. Um estrondo como um abismo, algures onde estará, se existir esse lugar no cérebro, a memória do futuro. Um misto de pena e dor antecipada, pela ausência irremediável, pelo desamparo que sentirá quem fica.
Todos os anos, nas muitas grandes ou pequenas saídas, trazia sempre "pedras" ou conchas. Andam por aí, nas gavetas, nos vasos, nos frascos, nas prateleiras. Anos oitenta e antes. A partir de dada altura, em algumas escrevi a data, fui ver: Termas de Monfortinho Outubro 2005, Labruge Outubro 2006, Praia da Lota Setembro 2009, Praia das Bicas Maio 2010, Caminhos de Santiago Setembro 2010, Praia Grande Maio 2011. Além de "beijinhos" e caramujos das praias a Norte, esses em anos muito e muito recuados. Sei que algumas pedras são fósseis pelas figuras e sinais que ali ficaram gravadas para sempre.
E todas mudas, falam de outros tempos. Estas últimas, na varanda de Manta Rota, não as trouxe, ficaram como um "adeus".
Ao mesmo tempo que escrevia, a propósito de tempo/faltas/perdas, recordei a vista em Reguengos de Monsaraz, o antes da Barragem do Alqueva, em Setembro 2001
A seguir, um registo da paisagem real - e as de cima foram reais! - o que vi há umas semanas.
E eis como se submergem as coisas físicas mas a terra, por baixo da água, permanece. O céu também é o mesmo. Há o testemunho das memórias, dos que ali viveram, amaram e morreram.
Mas nunca as árvores. Dá-me pena.