Sunday, July 16, 2017

Meninas-mulheres

Era o norte que conhecia, a praia, os nevoeiros, o caminho de pó,
os pinhais e as veredas, as pedras que surgiam do nada, no meio da natureza, com musgos e líquenes verde claro,
o vento, o sal, as algas com que fazia tranças, duma praia a outra, sempre a olhar o mar, as cantigas "Tous les garçons et les filles", e tantas que ainda hoje as sei de cor,
as camas de areia entre as dunas, umas flores amarelas com folhas como verniz,
os olhos rasos,
as palavras e o amor, a amizade e o sonho,
a ilusão e o realismo: que flutuavam apenas entre o rosa e o negro, a fuga e a presença, o escondido e o descoberto.



Onde está toda esta gente?

Os seixos do jardim: que os conheço de os ter carregado. Porque o pai tinha sempre uma missão, um objectivo de trabalho e não-distracção. "O que fizeste hoje, para o corpo e para o espírito?", a pergunta do fim do dia, desde que me lembro, teria eu 6 ou 7 anos?


Mil adolescências, momentos, mitos estilhaçados. Poesia nos pinhais.
Vento outra vez.

Thursday, July 13, 2017

Mulheres-meninas

Passam os meses sobre - e em cima, e forçando-as a submergir -
as meninas, há tão pouco tempo apenas nascidas,
e as mulheres que o foram,
ainda um riso, um tanto tonto e infantil apesar da idade,
quando a transparência deles, dos anos, nos permite ver e mostrar o que fomos e o que somos. Sofremos. Passamos.
E se, porventura e tão raro, temos momento de divertimento, uma fugaz temperatura morna, diversa da vida gelada e surda que nos empurra,
logo se nos vem a água, a mágoa,
o presente, de mão fechada e perna dormente.

Nas estações de comboios basta uma mudança de agulha, um trocar de trilhos, para que se afastem ou embatam, as carruagens da vida. Tal as pessoas.


Isto porque vi ontem o filme sobre a vida de Paula Rego. Que muitos dos seus quadros me desgostaram - não gostei deles - e ontem compreendi os caminhos das torturas. De ser fora e ser dentro (por).
Nomes que algures - Londres, famílias - se cruzaram e diferenças que nos levaram. Diversamente.