Tuesday, December 31, 2013
Uma janela
... um olhar atento, me bastaria.
Fosse para o verde do campo ou do mar.
A pedra, o prumo, o rumo.
A luz.
Duas cerejas.
Ou um pássaro.
Coisas amadas e inúteis de tão comuns.
(Ah... e vou substituir hoje o Bookmark Calendar 2013 dos escritores e pensadores irlandeses, pelo Calendrier da Provence 2014, ambos dádivas graciosas de uma amiga. Vão umas, vêm outras. Folhas e amigos).
Friday, December 13, 2013
Vida
Beber a vida como água?
Na sua evanescência, no seu correr fugaz, na sua sombra e luz.
Teria eu pensado o mesmo há 50 anos? Há 5? E que me adiantou?
Não me encontro mais perto da fonte, antes me aproximo da foz.
Na sua evanescência, no seu correr fugaz, na sua sombra e luz.
Teria eu pensado o mesmo há 50 anos? Há 5? E que me adiantou?
Não me encontro mais perto da fonte, antes me aproximo da foz.
Sunday, December 8, 2013
Caminha
Um laço no cabelo, de riscas amarelas e castanhas, o vestido de fazenda fina cor creme, uma fita de veludo castanho a sublinhar os folhos. A mãe fez-lhe o vestidinho e penteou-a, a sua menina era sempre escolhida para as festas de casamento.
O indicador e o polegar unidos num círculo por onde passaria o mundo. A custo.
Leva a testa franzida, já - e irá tê-la ainda mais o resto da vida.
Caminha a "menina das alianças" levando uma bandeja de prata.
Caminha ainda, sem bandeja nem decisão.
Sunday, November 10, 2013
Apenas ausência
... em anos que não contam como anos mas em centenas de dias em que me estás longe.
Sem resolução. Não há.
Nem reparação de erros. Não se pode.
Bem sabes que me aflige
a terra a chuva os compromissos de finados e idos
essas coisas de falar assim e assado.
Todas as noites o meu olhar não é nenhuma conversa contigo:
é oração a ti: é tomara que tivesses tido uma vida mais feliz...
Sem resolução. Não há.
Nem reparação de erros. Não se pode.
Bem sabes que me aflige
a terra a chuva os compromissos de finados e idos
essas coisas de falar assim e assado.
Todas as noites o meu olhar não é nenhuma conversa contigo:
é oração a ti: é tomara que tivesses tido uma vida mais feliz...
Thursday, September 5, 2013
Wednesday, July 10, 2013
Reflexão de praia
... quero é vestir uma saia das coisas do mar,
gratuitas aos olhos,
no ardor das tardes de Verão.
Ao caçar as ventosas que sugam,
o que resta do beijo das pedras?
As marcas dos dedos no tempo,
... ah, se vou aferir o que me deram,
o que me tiraram,
o que dei,
melhor será que durma-bruma
sobre o leite derramado.
Monday, May 27, 2013
Um ano após
..ir, voltar, desaparecer.
Uma sombra de luz, algures, o meu pai.
Apenas lembrança, piedade pelo silêncio que nos envolveu tanto.
Qual de nós viveu orfão?
Wednesday, April 10, 2013
Remexendo
... em papéis, do campismo, da tropa,
e das famílias.
Veio-me à memória um livro "A Truta" de Roger Vailland, editado em 1964, e que eu teria lido nos anos 70, exactamente com o pensamento em.
Que existia lá, pessoa-peixe.
Que existe, insisto.
Procurei a fotografia e faço o casamento da memória. E chove.
e das famílias.
Veio-me à memória um livro "A Truta" de Roger Vailland, editado em 1964, e que eu teria lido nos anos 70, exactamente com o pensamento em.
Que existia lá, pessoa-peixe.
Que existe, insisto.
Procurei a fotografia e faço o casamento da memória. E chove.
Friday, March 15, 2013
Mas...
Depois deste tenebroso estar.
Talvez haja LUZ... quem sabe das minúcias do pensamento
que temos
ao olhar o coração da flor?
Talvez haja LUZ... quem sabe das minúcias do pensamento
que temos
ao olhar o coração da flor?
Wednesday, March 6, 2013
O que não compreendi, nem a seguir nem depois
nem nunca irei compreender e também ninguém me sabe explicar: como é possível que sozinha tivesses ficado, na penumbra da enfermaria.
E que as horas de morrer à noite no hospital, entre convalescentes, feridos, mortos e doentes, entre os que tomam café nas madrugadas
ou dormitam ou falam das suas vidas,
seja "sempre" às 7h da manhã.
Sabias bem que não acredito no que não entendo e que luto, luto meu e sempre, contra a desumanidade a que (todos) se vão habituando.
E eu pedi, quase exigi, ficar contigo, contra as normas.
Mas que normas, mãe?
Monday, February 25, 2013
(sem) Mãe
Os anos de ausência vão contar-se, mãe, um a um.
E contudo foste tu que "me fizeste" o coração, com o teu sangue e o teu (parco) alimento.
Vocês as duas, mãe e filha, viviam com dificuldades, eu lembro-me, mãe.
Feliz Aniversário, mulher bonita.
Leva uma memória etérea à minha Amiga, a melhor, a mais simples: a L., sabes? a que dizia "deixa lá".
Morreu no dia dos teus anos já há muito tempo.
Os corações não se apartam, mãe, eu percebi.
Thursday, February 21, 2013
A não-árvore
Como sou muito imaginativa, e muito muito mais quando algo presencial não me agrada,
continuo a ver a imagem de há um ano atrás:
que a minha árvore tem luas penduradas.
continuo a ver a imagem de há um ano atrás:
que a minha árvore tem luas penduradas.
Friday, February 1, 2013
Em todo o lado...
... se procura, ou encontra, a ternura.
Um dia
hei-de ter um jardim
fazer um azulejo
ou atirar um beijo.
Tuesday, January 22, 2013
Eugénio ainda, com a luz do sol e as crianças
Porque SIM, porque a música, porque as crianças, porque o amor, porque a milenar face do homem brilha estelar, porque a Poesia.
Ouvido na RTP2, na voz própria dele, sem lhe saber o título nem o livro onde.
"As crianças são o verde dos frutos
as abelhas todas do rumor dos pulsos
As mulheres procuram impedir que cresçam
quebram-lhes a raiz tímida de desejo.
Trago-as comigo,
deito-as no poema.
O que em mim é riso
põe-se à janela."
Sunday, January 20, 2013
Eugénio de Andrade
O poeta das luzes: as fortes, as coadas pela mágoa.
Breves carícias, soltos sentimentos, crianças meditando a infância, adultos pensando nas (suas) perdas.
Porque 90 anos de nascimento do poeta, vida se não fora a morte:
"Casa na Chuva
A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei porque voltou esta tarde,
se minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: ouves?
Oiço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto."
Do livro Antologia Breve de E.A., Circulo de Poesia, edição Moraes Editores /1980.
Breves carícias, soltos sentimentos, crianças meditando a infância, adultos pensando nas (suas) perdas.
Porque 90 anos de nascimento do poeta, vida se não fora a morte:
"Casa na Chuva
A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei porque voltou esta tarde,
se minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: ouves?
Oiço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto."
Do livro Antologia Breve de E.A., Circulo de Poesia, edição Moraes Editores /1980.
Thursday, January 17, 2013
Do campo a santa alegria
Indiferentes a crises que não sejam as da Natureza, cataclismos,
indiferentes ao dinheiro, à cobiça,
à conversa, à preguiça,
os pequenos punhos da Primavera, a brotar da terra e das árvores.
Saturday, January 5, 2013
Véspera de 6, de Reis
Se imagino que o carácter é como a coluna vertebral no corpo do espírito,
dói-me, mói-me.
Ambas como ossos envelhecidos, gastos de ser.
Apetecia-me "não"
e assim pousar, pintar de pensar,
silente e ausente
- e o mar.
dói-me, mói-me.
Ambas como ossos envelhecidos, gastos de ser.
Apetecia-me "não"
e assim pousar, pintar de pensar,
silente e ausente
- e o mar.
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