Monday, November 29, 2010

Tremer-temer




A uns minutos de mim.
Tremo por dentro como se uma grande cólera ou um grande sofrer.
O vidro gelado arrefece o sangue na minha fronte esquerda. Tenho de o fazer, encostar a pele e os ossos à barreira que me separa do lá fora.
Para abrandar as dores do presente, tantas as passadas e adivinhadas as futuras.

Sangue-suor que palpitava tão doce e fluído com a alegria das cores dum lugar mais novo.
Sangue-sofrido que gotejou no limite da dor.
Sangue-sinal que surgia sempre como um augúrio de fantasmas ou um choro interior.
Sangue-raíz.

Cão feroz interior aguardando o momento de saltar.

1 comment:

Maria Trindade Goes said...

Talvez todos esses sangues sejam alinhavos entre dois tecidos, dois tempos, duas dores sem demissão neste cerzir constante de vidas que escorrem.

Há sempre uma cólera que lateja face ao que não escolhemos. Ao que não nos foi dado escolher.

Tememos sobretudo o que adivinhamos a partir do que já conhecemos.

E fica muitas vezes a saudade do que não chegámos a conhecer.

É quase uma condenação, a raiva mansa, cheia de porquês que rangem os dentes mas que não se explicam.

É capaz de haver sempre uma chuva, numa fronte fria.

Ou numa folha que o vento leva.

Bjs