... a conta-gotas, porque não o quisemos tão depressa, tão cinzento e chuvoso. Tão alvoroçado de notícias, deste mundo e do outro. Continuam a chegar-me abóboras, sorridentes, divertidas, em fotografias que dão a volta a metade do mundo, vivências que se apartam de nós, os daqui. Do estado da Europa também. Raramente vejo notícias, leio-as usando a peneira do meu discernimento.
Todos os sinais estavam a ser dados e transmitidos, uma invasão que principiava/parecia mansa, de um capital sem escrúpulos, de liberalismos à revelia dos anseios de pessoas comuns, de gente - que normal? - "escondida" nas suas ideologias fascistas. Há muito. Nestas últimas décadas?
As mensagens pelos diversos aparelhos aumentam. As vozes e as caras agradáveis esmorecem, algumas notam-se de pura perfídia, outras são recordações de presenças físicas: porque agora estamos todos em distanciamento de vigília. A tecnologia que comanda "isto" está cada vez mais atenta e de olhos vesgos; e troca as voltas, e repete avisos, e copia. E invade.
Melancolicamente zangada. Olho a lua e os fins de tarde, da janela. Cogito e medito.
Quantas vezes espreitei estas janelas de manhã mas principalmente à tarde? Uma delas, as que reflectem o sol antes de se recolher, esteve há anos à venda. Vi o anúncio detalhado e andei por ela, era antiga mas airosa e confortável. Posicionada como gosto, Nascente-Poente, e a varanda não tinha prédios onde se me cortasse a vista. Tinha um sótão onde sonhei colocar livros e pinturas. Nunca lá vejo ninguém, em todos os dias que a procuro.Os reflexos, das coisas e das pessoas, tiveram sempre para mim um encanto, ou uma inquietação, que é inexplicável. Como ver e sentir em diferido. Será assim a minha memória um espelho, onde vejo outros pormenores que me escaparam quando os olhei/vivi directamente.